Teatro Noh

Nō, Nô, Nou ou Noh é uma forma clássica de teatro profissional japonês, que combina canto, pantomima, música e poesia. As atuais companhias de noh são localizadas em Tokyo, Osaka e Kyoto. Interpretado apenas por atores, que passam sua arte pela tradição familiar. 

É uma das formas mais importantes do drama musical clássico japonês, executado desde o século XIV. Evoluiu de outras formas teatrais, aristocráticas e populares, incluindo o Dengaku, Shirabyoshi e Gagaku. Suas raízes podem ser encontradas no Nuo uma forma de teatro da China. 

Um de seus mais importantes dramaturgos foi Zeami Motokiyo. Por seu lado, deu origem a outras formas dramáticas, como o Kabuki. O Noh é caracterizado pelo seu estilo lento, de postura ereta, rígida, de movimentos sutis, bem como pelo uso de máscaras típicas. 

Possui em Zeami Motokiyo (1363-1443) o codificador maior dessa arte. Com um repertório de aproximadamente 250 peças, o universo Noh é habitado por deuses, guerreiros e mulheres enlouquecidas, às voltas com os mistérios do espírito. O foco da narrativa se encontra no protagonista (shite), o único que porta uma máscara. Shite é um espírito errante que exprime, de forma lírica, a nostalgia dos tempos passados. 

O coadjuvante (waki), geralmente um monge, não interfere no curso da ação, apenas é revelador da essência do shite. Um coro e quatro instrumentos auxiliam na condução da trama, que se soluciona através da dança. Esse coro, vale destacar, possui uma função dramática decisiva, conduzindo a narrativa. 

O Noh é a fusão de poesia, teatro, bailado, música vocal e instrumental e máscaras. Os diversos elementos musicais são estreitamente entrelaçados numa simbiose entre o canto e a pantomima. No Noh, a descrição de cada cena repousa unicamente no texto do canto, nos gestos e nos movimentos do ator. A combinação desses elementos obedece a regras corporais e musicais, a teorias sofisticadas, resultando numa estética extremamente refinada, o que gera dificuldade geral em compreendê-lo e apreciá-lo. 

Isto ocorre sobretudo no que se refere ao libreto, escrito em linguagem arcaica e complexa, na codificação de gestos e movimentos, e na linguagem musical característica, totalmente estranha aos ouvidos comuns. 

Os movimentos sintéticos do ator, são quase imperceptíveis como, por exemplo, de uma maneira estilizada e sutil, levanta os olhos para a lua, ou num gesto com a mão retira a neve do kimono. Esses movimentos fazem surgir aos olhos e espírito do espectador, um universo todo poético, um mundo visto de diversos ângulos envolvendo fenômenos da natureza e da vida. 

As peças Noh decorrem num palco bastante despojado, feito de hinoki liso (cipreste japonês). O cenário é, invariavelmente, constituído apenas pelo "kagami-ita," um pinheiro pintado, no fundo do palco, mesmo que a peça se desenrole noutros locais. Há várias explicações para o uso desta árvore, sendo muito comum a interpretação que se refere aos rituais xintoístas, pelos quais os deuses descem à Terra por este meio. Outro adereço inconfundível é a ponte estreita (a "Hashigakari"), situada à esquerda, que os principais atores utilizam para entrada e saída das personagens. 

Por tradição os atores de Noh não ensaiam juntos, cada ator pratica seus movimentos, canções sozinho ou com a orientação de um membro mais antigo. Entretanto, o ritmo de cada apresentação é determinado pela interação de todos os atores, músicos e pelo coro. Desta forma o Noh exemplifica um dos princípios estéticos de tempo e duração, chamado por Sen no Rikyu "ichi-go ichi-e". 

Uma das peças mais famosas do repertório Noh, é "Hagoromo - O Manto de Plumas", que tem uma "transcriação" para o português, feita pelo escritor Haroldo de Campos. 

A cultura japonesa, principalmente o Noh, ficou conhecida no ocidente graças ao trabalho de Ernest Fenollosa, norte-americano que trabalhou na Universidade de Tóquio nos anos de 1878 a 1886. Outros grandes artistas que desenvolveram seu trabalho fortemente influenciados pelo teatro Noh e pelo trabalho de Fenollosa foram Ezra Pound e Yeats em 1913 e em 1921. Paul Claudel, embaixador da França no Japão, Stanislavski e Meyerhold foram influenciados por este teatro, com maior influência no teatro cômico kabuki pelo seu aspecto mais colorido e de gestualidade mais exagerada, ao contrário do Noh. Bertold Brecht, adapta em 1930 um Noh: Taniko, com o título Der Ja-sager (aquele que diz sim), adaptado de uma versão inglesa. 

Não se pode falar em Teatro Noh no Brasil sem mencionar o nome Hakuyokai (Haku=Brasil; Yo=canto de Noh; Kai=associação), o grupo pioneiro de praticantes de Noh, da cidade de São Paulo que tanto contribuiu para a divulgação desta arte no país. Tudo começou quando Nobuyuki Suzuki, pesquisador e professor universitário, veio ao Brasil a serviço do Ministério da Educação e do Ministério das Relações Exteriores do Japão, em agosto de 1939. O objetivo da viagem era ministrar uma série de palestras em São Paulo e nas colônias japonesas, a respeito da cultura nipônica. 

Durante sua estada, convocou, através da imprensa, todos que quisessem participar de um encontro de Noh. A partir de então, até o início da Segunda Guerra Mundial, houve algumas apresentações, sendo que, nesses encontros, participavam tanto a Escola Kanze quanto a Hosho

Após seu retorno ao Japão, após o término da Guerra, alguns praticantes sucederam-no, inclusive seu filho Takeshi, na organização dos encontros. Takeshi Suzuki, da Escola Hosho, empenhou-se no estudo e na prática desta arte, fazendo apresentações regulares e, em 1984, comemorou a 100ª apresentação do grupo Hakuyokai. 

Com a morte de Takeshi Suzuki e de Noboru Yoshida (Escola Kanze), os grupos se dispersaram e, as atividades da grande maioria deles ficaram restritas aos treinos de canto de Noh e, nos últimos anos, não se registram apresentações conjuntas. 

Hoje, acredita-se que quatro grupos continuam cantando, bailando e tocando instrumentos na tentativa de preservar essa arte tradicional milenar no seio da comunidade nipo-brasileira.

Fonte:
file:///C:/Users/User/OneDrive/Imagens/Apostila-completa-de-teatro-pdf-free.pdf

Comentários